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É com os olhos nos serviços de finanças descentralizadas (DeFis) com criptomoedas que o Banco Central (BC) está ao estudar o real digital. Porém, está sondando os participantes do mercado para saber quais aplicações teriam interesse e as necessidades de infraestrutura tecnológica. Com as respostas que levantará nos próximos seis meses, o banco começará provas de conceito (PoCs) em 2022 para comparar tecnologias.
“O BC vê que os novos serviços, principalmente no ecossistema de criptomoedas no mercado de DeFis que está se desenvolvendo nos Estados Unidos, trazem uma nova maneira de prestar esses serviços. E que pode ser muito mais adequada para a população. Há flexibilidade de manipulação de contratos que não existe no ambiente bancário convencional. O sistema poderá prestar serviços que hoje têm custo inviável e abranger a base de participantes do sistema financeiro”.
Foi o que disse Fábio Araújo, coordenador dos trabalhos sobre real digital no BC durante o webinar “Criptoeconomia sem filtro – CBDC”, do Blockchain Hub Brasil (BHB), que aconteceu na nesta quarta-feira (12). Segundo ele, há a visão de que o real digital seria um token para prover liquidez de novos serviços, inclusive os que surgirão com o open banking.
Os BCs que estudam moedas digitais vão por diversos caminhos: atacado e varejo – esse semelhante ao Pix. Já o BC estuda um real digital que agregue ao que já existe aqui. Se isso acontecer, poderá aproximar o sistema financeiro convencional do que se vê, então, no mundo das criptomoedas.
“O ferramental do mundo cripto é muito interessante e pretendemos trazê-lo para dentro do nosso perímetro regulador, para fazer algo mais massificado, onde as pessoas tenham mais tranquilidade.”
O objetivo, afirmou, não é acabar com as criptomoedas. “Isso vai continuar existindo. É parte do mercado financeiro ter ativos especulativos. Sempre vão existir e terão seu uso”.
“Real digital vai gerar produtos que nem imaginamos ainda”
De acordo com Maurício Magaldi, superintendente executivo de Crescimento, Parcerias e Novos Negócios do Banco Fibra e host do BlockDrops Podcast, o principal benefício de se usar blockchain como infraestrutura é lançar produtos muito rapidamente. “E fazer isso de maneira colaborativa, o que blockchain permite e promove.”
Há ainda o benefício de se quebrar barreiras entre industrias através de integrações com smart contracts, APIs e afins. Assim, se usaria o real digital para oferecer serviços financeiros que hoje nem se consegue imaginar, completou.
Orlando Telles, fundador e head de research da Mercurius Crypto, lembrou que as blockchains passam por uma melhoria em relação a metodologias de criptografia que permitem mais privacidade e até de customização das redes, por exemplo. E questionou se redes públicas estão entre os estudos do BC.
Araújo afirmou que o BC ainda não concluiu qual tecnologia usará. A instituição tem uma visão geral do uso de smart contracts e está debatendo o tema com stakeholders do mercado. E disse que não haverá uma reposta nos próximos seis meses. Porém, com o as respostas levantadas nesse período, o BC espera começar uma série de PoCs em 2022 para comparar tecnologias. “Temos que comparar eficiência”.
Uma hora a capacidade do Pix acaba e será preciso se unir a blockchain
Caso não haja uma diferença de eficiência considerável ao menos nas aplicações iniciais que o mercado gostaria de ter para o real digital, não será possível descartar toda a tecnologia feita para o Pix e partir para uma nova plataforma, disse o representante do BC.
“Mas, a gente tem praticamente certeza de que, eventualmente, vai se exaurir a capacidade da plataforma do Pix e essa vai ter de se integrar a uma blockchain. Daqui até lá, vai ter bastante tempo para analisar e acompanhar a maturação das tecnologias blockchain.” Segundo ele, ainda não é possível dizer a tecnologia que o BC vai usar “porque ainda estamos muito longe do horizonte de implantação do sistema”.
O BC começou a fazer PoCs em 2017, mas detectou problemas de escalabilidade e visibilidade das transações pelos bancos participantes. No entanto, afirmou Araújo, já há melhoria na escalabilidade “e achamos que em dois a três anos isso vai melhorar muito mais e poderemos implementar as soluções necessárias para o nosso mercado”.
Estado de direito terá de garantir privacidade
Para Magaldi, “uma preocupação enquanto parte do mercado financeiro é como a regulação vai acomodar isso (as mudanças que o real digital trará)”. A regulação é necessária para grandes investidores institucionais e governos adotarem criptomoedas e precisa elevar a segurança pró investidores e pró mercado, que saiba se comunicar com os dois”, completou Telles.
Uma outra questão levantada sobre o real digital foi a da privacidade, algo sensível, apontou Rodrix Digital, community builder da Dash no Brasil. “Do ponto de vista do individuo, estamos entrando num espaço 100% monitorado em atividades e localização pelo BC. O que o governo vai fazer com isso?”
Araújo disse que não é intenção (do BC) ser o ‘Big Brother’ e empresas como Google e Apple já podem saber o que uma pessoa faz e onde. “Temos que ter um estado de direito capaz de proteger nossa privacidade. Como a LGPD”.
E afirmou ainda que a privacidade é fundamental para o sistema financeiro. “Acreditamos que sem confiança se perde muito da eficiência. É preciso ter algum garantidor de que seus dados estão protegidos. A proteção que o governo brasileiro dá às informações é a que o estado de direito do país pode dar. E isso é fundamental para a eficiência da economia”.
Dessa forma, completou, o equilíbrio precisa estar na garantia da privacidade das pessoas e no nível de informações que o governo precisa para garantir a lisura da transações. Além de se considerar também as informações que as empresas precisam para aumentar a qualidade de seus serviços. “A gente reconhece essa tensão. Temos que tentar achar o equilíbrio no uso da informação. “
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